logo-kanal

Famílias pretendem retomar ocupação após despejo de área invadida

Compartilhar

Cerca de 40 pessoas foram retiradas; elas afirmam que mandado permitindo a ação não foi apresentado

A noite de quarta-feira (2) foi marcada por despejo feito pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) de aproximadamente 40 moradores que ocupavam área no Bairro Lagoa Park, em Campo Grande. Eles alegam que não foi apresentado mandado judicial antes da ação e que os guardas agiram de forma truculenta, inclusive derrubando barracos de madeira.

Nesta manhã de quinta-feira (3), os moradores que foram desalojados se mostraram indignados com a ação. Segundo relatos, os guardas chegaram com “muita ignorância” e deram apenas cerca de 10 minutos para que as famílias deixassem o local.

De acordo com eles, durante os 44 dias em que permaneceram no local, procuraram manter a região limpa e organizada.

A dona de casa Gisele da Silva Marques, de 27 anos, é mãe solo de cinco crianças, incluindo um bebê de quatro meses. Ela morava na casa de uma amiga, mas por não ter renda e viver apenas com auxílio governamental, não conseguiu mais pagar aluguel. Por isso, ela foi para a ocupação, onde estava há apenas três dias.

“Foi covardia o que eles fizeram. Agora, a gente tem que dormir na rua. A condição não está fácil, ainda mais eu que sou mãe solo. Não tenho casa própria. Pagava aluguel, mas saí do aluguel para vir aqui montar as barraquinhas e eles chegaram ontem tirando a gente”.

Ela afirma estar cadastrada em projetos de habitação da Emha (Empresa Municipal de Habitação) e Agehab (Agência Estadual de Habitação) e não consegue trabalhar porque precisa cuidar dos filhos.

Thiago espera que Prefeitura possa ceder terreno baldio aos moradores que ali pretendem viver (Foto: Idaicy Solano)

Thiago Pereira da Costa, de 29 anos, também disse que não tem onde dormir. Ele morava sozinho na ocupação. Thiago comenta que os moradores querem que a prefeitura doe o terreno para eles, já que não se importam em ter de pagar luz e água. Ele comenta que os moradores, em geral, pretendem retornar ao local.

Vale ressaltar que áreas como a Homex, por exemplo, foi regularizada pelo poder municipal neste ano após 10 anos de disputa.

“Moro sozinho aqui porque não tenho condições, não tenho onde parar, e vim para cá. A forma que fomos despejados é uma coisa que nem tem necessidade, porque a gente está aqui apenas porque a gente realmente precisa”.

Gleice Kely da Costa Salina, de 23 anos, é mãe solo e mora com a filha de 7 anos. Ela explica que os moradores aproveitaram as próprias árvores para auxiliar na estrutura das casas.

Ela trabalhava em feiras fazendo panfletagens para dar conta de pagar o aluguel, mas não estava dando conta de conciliar trabalho e cuidados do filho. Por isso, sem escolhas, mudou-se para a ocupação, onde pretende retornar.

Ela relata que as pessoas não têm condições materiais de arcar com os custos de moradia e dos filhos, mas afirma que se o local fosse cedido, seria mais fácil. “A gente só quer um lugarzinho para a gente morar. Se tiver que pagar, a gente paga. Às vezes, a gente paga aluguel que é absurdo de caro, mas pagar uma coisa que é nossa e a gente tem certeza que vai morar, já ajuda”.

Ou eu pago um aluguel, ou eu alimento minha filha”, comentou Gleice Kely, 23.

Agora teve de ir para a casa da mãe, que já vive com outras cinco irmãs, onde não há tanto espaço para criar a filha. Elas estão lá temporariamente até arranjar um lugar para viver. Ela também frisou que o aluguel encontrado mais barato na região gira em torno de R$ 700, valor impraticável a ela.

O autônomo Douglas Navarro da Silva, de 26 anos, estava há 30 dias na ocupação com a esposa e a neta de 2 anos. Nesta noite, dormiram na casa de familiares. Eles moravam de aluguel, anteriormente, mas não tinham como pagar. Ele se mantém com o Bolsa Família e relata que, apesar de haver muitas crianças no local, a GCM foi “truculenta”.

Materiais de construção foram colocados na casa de uma vizinha solidária à situação (Foto: Idaicy Solano)

Apoio dos vizinhos

A vendedora Deuseli Souza de Oliveira mora na região há mais de 25 anos e se solidarizou com a situação. Inclusive, cedeu o quintal de casa para que as famílias retiradas da área invadida pudessem guardar os pertences das famílias ou materiais de construção.

Ela é enfática ao dizer que os moradores da região apoiam que a ocupação permaneça, por se tratar de “pais e mães de família, mães solo e gente trabalhadora” que só quer um lugar para morar com dignidade. Ela está indignada porque ela mora mora há décadas ali e vê o local ser depósito de lixo e esconderijo de bandidos e de objetos roubados, mas as forças de segurança pública nunca estiveram presentes por lá, na sua visão.

Ela exemplifica que moradores são assaltados por bandidos que se escondem no terreno baldio, durante as madrugadas ou noites, quando as pessoas vão ou voltam do trabalho.

“Para vir ver ou atender a população quando tem lixo e é assaltado, ninguém vem. Mas quando as pessoas moram lá porque não têm onde ir, eles vêm”, disse Deuseli, que até se emocionou com a situação.

Crianças largaram pacote de bolacha que comiam após guardas chegarem no local (Foto: Idaicy Solano)

O caso

Na tarde desta quarta-feira (2), cerca de 40 pessoas que ocupavam irregularmente um terreno na Rua Lagoa Santa, Bairro Lagoa Park, foram retiradas pela GCM.

A Prefeitura de Campo Grande não respondeu aos questionamentos da reportagem, feitos nesta manhã por meio de assessoria de imprensa. Foram questionadas quais ações serão feitas pelo poder público para resolver o déficit habitacional dos envolvidos, bem como se há possibilidade de o local ser cedido, além de outras questões.

 

Todos os citados nesta reportagem afirmam que têm cadastro na Emha e Agehab.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *